Índios pescadores compartilham seu programa de sucesso no manejo de pesca de peixe ameaçado de extinção

O maior peixe de escamas da Amazônia está ameaçado. O pirarucu, conhecido por sua coloração vermelha, pode alcançar até três metros de comprimento e pesar mais de 100 quilos. A pesca predatória reduziu tanto os estoques que a pesca foi proibida e só é autorizada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em projetos de manejo de pesca.

Desde 2016, a USAID tem apoiado o desenvolvimento de cadeias de valor de manejo de pesca como parte da estratégia de implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI). Em outubro de 2017, a USAID/Brasil financiou um programa de intercâmbio que reuniu pescadores e índios Kaxinauá do Acre, além de índios Deni e Kanamari do rio Xeruã para observar e aprender com o projeto de manejo de pesca de Pirarucu dos índios Paumari no rio Tapauá, no sul do Amazonas.

A região do sul do estado enfrenta fortes pressões em várias frentes econômicas nas últimas décadas, que vão de grandes obras de infraestrutura, como estradas e hidrelétricas, a mineração e ao desmatamento ilegal. As comunidades locais precisam de alternativas para a sobrevivência, que agreguem valor à floresta em pé e o manejo sustentável do pirarucu é uma das formas mais eficientes de unir a geração de renda com a conservação da biodiversidade. O projeto em conjunto com a OnG Operação Amazônia Nativa (OPAN) teve tanto sucesso que a OPAN ganhou um prêmio de sustentabilidade, recebido com orgulho por índio Paumari.

O peixe pode ser salgado e sua carne branca e macia é muito apreciada pelo sabor e por ser uma fonte de proteínas de qualidade. Lagos de várzea são o habitat natural dos pirarucus e os Paumaris são conhecidos por suas técnicas de pesca neste tipo de lago. Eles monitoraram a quantidade crescente de peixes por cinco anos, até que ela chegasse a quase 10 vezes mais peixes do que a primeira medição. Só então, em 2013, eles voltaram a pescar. O projeto foi premiado pelo Ministério do Meio Ambiente e em 2017 eles começaram a ensinar o que aprenderam.

Durante quatro dias os visitantes ajudaram na pesca, aperfeiçoaram suas técnicas em medir o tamanho dos peixes, pesá-los e limpá-los. Eles também aprenderam sobre o tamanho certo das redes, como usá-las e como consertá-las.

Além da OPAN, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), juntamente com a Federação de Organizações Indígenas e Comunidades Indígenas do Médio Purus (Focimp) são parceiros no projeto de manejo do pirarucu, que também é apoiado pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Segundo Antônio Santos, Secretário-Executivo da Focimp e indígena da etnia Apurinã, este tipo de intercâmbio com outras comunidades que estão iniciando o manejo do Pirarucu é vital para a conservação da natureza e para a abundância de comida para povos indígenas: “Vai começar no manejo do pirarucu, mas outros animais vão se chegar mais. Peixes e animais de caça. É isso que os povos indígenas precisam. Ter o peixe e a caça. Vem tucunaré, pacu, surubim. Isso é um exemplo. Se faz a venda do excesso do peixe para comprar leite, açúcar,,, no mais é comer bem”.

“Dizem que os povos indígenas não produzem nada. Vamos mostrar que estamos produzindo”, destacou em referência ao manejo dos Paumari a outras atividades com produtos da floresta. “Nós não estamos destruindo a mata. Estamos usando os recursos. Com a floresta em pé o índio está forte e sem a floresta o índio não vive”, concluiu. Santos diz que “nos acusam de não produzir nada, mas vamos mostrar que estamos produzindo usando os recursos da floresta. Não vivemos sem a floresta e com florestas fortes os índios são fortes.

A pesca manejada dos Paumaris em 2017 foi de 16 toneladas, vendida com o suporte da Cooperativa e entregue no porto de Manaus. Depois de deduzidos os custos, o lucro é dividido entre os 80 indígenas envolvidos em todas as etapas do monitoramento.